O Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) é organizado a muitas mãos. Entre elas, a força do campo através das embaixadoras que representam as cinco regiões do país: Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. O trabalho dessas produtoras inspira o trabalho de muitas mulheres que se reúnem no Congresso para trocarem experiências e se capacitarem para alcançar seus objetivos no campo.
Confira a importância dessa mobilização na entrevista abaixo, respectivamente com Sonia Bonato, Edneia Becker, Renata Salatini, Chris Morais e Ani Sanders.
AM – Como você avalia o crescimento do CNMA e a importância dele para as produtoras de todo Brasil?
Sônia Bonato (Centro-Oeste) – O evento traz, para nós mulheres, um apoio muito grande. É essencial para o nosso crescimento. Quando voltamos para a fazenda levamos aquela vontade de melhorar o que fazemos. O conhecimento tem a capacidade de nos tocar e trazer uma grande energia para desenvolvermos muitas coisas que, às vezes, achávamos difíceis. Nesses quatro anos como embaixadora, vi amigas mudarem muito e fazer muitas coisas, por meio do que aprenderam no CNMA ou em outro evento. A nossa participação é importante, como é importante ter pessoas que realizam esse tipo de evento.
Eu participo desde 2018 do Congresso e me tornei embaixadora em 2020. O que notei nesse período foi o crescimento da participação da mulher no setor. As produtoras estão se comprometendo a fazer mais dentro e fora da porteira, estão ganhando espaço e voz. Temos muitos grupos de mulheres. As associações, as federações, as instituições estão nos apoiando. Tudo isso faz com que as mulheres façam uma revolução de sabedoria. Quando eu comecei, em 1995, não tinha mulher no agro. Eu não tinha apoio igual às mulheres têm hoje. E com muitas mulheres e grupos, não é para se tornar uma disputa, mas, sim, para se ajudarem, para iluminar muitas outras.
Em vez de ter uma disputa entre as mulheres, o bom é que elas tentam levar todas para um lado melhor.
AM – Nesses dois anos como embaixadora, como tem percebido a evolução do trabalho das produtoras rurais diante dessa organização das mulheres em grupos, das capacitações promovidas como no CNMA e em muitos outros grupos formados em todo país? Qual a importância do CNMA para as diversas cadeias de produção em todo o país?
Edneia Becker (Sul) – Sobre a interação das mulheres no agro, nesses dois anos que eu estou presente no CNMA, eu percebi o quanto as mulheres se organizaram para buscar conhecimentos técnicos, além do conhecimento pessoal, que a mulher tem a essência em buscar. A prática de técnicas nas propriedades, as mulheres se engajam nos grupos, onde encontram ferramentas para aplicar na propriedade. Eu sou do Paraná e lá nós temos a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), que é muito forte e temos as comissões de mulheres da FAEP. Então, nos sindicatos rurais, essas mulheres se organizam nas comissões e, nessas comissões, pedimos cursos, treinamentos, toda espécie de ajuda através da FAEP. Porém, em outros estados, as mulheres se organizam em entidades para buscar conhecimento técnico, tecnologia, inovação e, cada vez mais se integrar com outras mulheres para se fortalecerem ainda mais.
Sobre a importância do Congresso, o CNMA é referência, pois é o maior evento de mulheres do agro da América Latina. Em 2023, reunimos 3.300 mulheres que trocaram muito conhecimento, fizeram “networking”, as que se conheciam pelas redes sociais tiveram a oportunidade de se encontrar, fazer parcerias. Então, o CNMA é uma ferramenta muito importante para os grupos de mulheres, para o seu fortalecimento, valorização e o posicionamento das mulheres dentro do agro.
AM – Você é embaixadora há dois anos, nesse período como avalia a importância do trabalho de vocês para o fortalecimento das mulheres e para o fomento e capacitação dos grupos de produtoras rurais? Quais dificuldades enfrentam?
Renata Salatini (Norte) – As mulheres têm buscado cada vez mais conhecimento e informação para que possam atuar porteira para dentro, porteira para fora. Na relação de negócio familiar, sua participação favorece a propriedade e agrega em produtividade, nos recursos humanos, na gestão administrativa.
Tudo isso é o que realmente nos move para que cada mulher, em sua cidade, em sua fazenda e em sua região, possa contribuir com o crescimento do agronegócio brasileiro, dentro e fora do país.
As dificuldades existem em todo setor e o que mais impede a mulher de atuar no agronegócio é a insegurança. E para se fortalecer, ela busca auxílio em grupos, participa de congressos e eventos para adquirir informação e conhecimento para que possa atuar e olhar para dentro de si e dizer: “eu sou capaz, eu consigo fazer!” Foguete não tem ré, não volta, segue sempre adiante.
A participação em eventos como o CNMA é muito relevante, pois as mulheres se aproximam, se conectam e percebem que suas histórias são diferentes em conteúdos, mas com essências muito semelhantes. E o que acontece depois dessas participações? Quando retornam para suas atividades, elas percebem que podem se unir e descobrem sua força.
AM – Nos dois anos como embaixadora, como avalia o crescimento das produtoras. Como você vê o impulso que esses grupos dão ao trabalho da mulher?
Chris Morais (Sudeste) – É importante vermos, a cada ano que passa, mais mulheres, principalmente, as produtoras rurais empreendendo, se capacitando, estudando, principalmente nos pilares da sustentabilidade, sociais, financeiros e aliados à conectividade do campo digital. Para poder, eventualmente, trabalhar a transição de gerações ou porque ela se enquadrou no elo da cadeia produtiva.
As mulheres ganharam espaço, mas têm que realmente estudar muito. Eu acho que as mulheres acabam estudando um pouco mais do que os homens. Ela acaba tendo um olhar diferenciado, mas o mais bacana de tudo é a gente ver, principalmente, a busca pela liberdade financeira da mulher. Então, o lugar de mulher é onde ela quiser, aliados a esses pilares que comentamos.
O Congresso é uma megajornada de conhecimento para produzir mais dentro da mesma área, com sustentabilidade. Não apenas ambiental, mas também com sustentabilidade financeira. Com esse cenário, os filhos têm que renovar e continuar. É o que vamos deixar para as futuras gerações.
AM – Quais contribuições do CNMA você destaca para o crescimento e fortalecimento das produtoras rurais em todo país. Para você, o que o Congresso trouxe de diferente para a sua jornada como produtora rural
Ani Sanders (Nordeste) – O encontro de mulheres nesse grande congresso CNMA me trouxe conhecimento, integração. É conexão com mulheres do Sul, Norte, Leste e Oeste do Brasil. Essa conexão aconteceu fora do palco, aconteceu na integralidade do evento, a todo o momento, em todos os lugares, a conexão estava viva, mulheres procurando conhecer mulheres, mulheres querendo conceito, história. Para mim, o que ficou marcado foram as grandes histórias de mulheres que estavam lá como protagonistas e que se identificaram com as embaixadoras. Então, essa conexão da representatividade por região foi muito forte. Eu acredito que contribuiu para o crescimento do Congresso em conceito, em prática, em relacionamento. Uma mulher puxando a outra, uma mulher se sensibilizando com a outra, compartilhando a sua vida, os seus fracassos, as suas vitórias. Eu acredito que foi uma corrente de mulheres que teve um protagonismo de crescimento e de força para alavancar os processos dentro da porteira. As mulheres têm que crescer juntas, unidas em grupos, sociedades, em associações e sindicatos; é o mundo moderno de hoje. E a fé dessas mulheres é buscar a inovação, é alavancar todos os processos. E essa foi a grande prática que o congresso me deixou, que me ensinou e que, mais uma vez, contribui nesse ano, nesse formato. Integração, responsabilidade compartilhadas com histórias de mulheres fortes e com fé.
Fonte: Instagram